domingo, 18 de dezembro de 2011

A amêndoa e o cimento

Antunes Ferreira
O que Pedro Passos Coelho disse na entrevista que concedeu ao CM – na semana que passou deu mais três, honny soit – é, sobretudo, vergonhoso para ele próprio,  mas também para o Executivo que nos quer executar. Indicar para os professores sem trabalho que a solução é emigrar - é um escarro. As vozes que contra essa infâmia se levantaram foram de um a outro extremo do quadrante político.

Acontece até que, julgo que por uma vez, concordei com Mário Nogueira, o patrão da FENPROF, coisa que considerava impensável, pois as frequentíssimas aparições dele em tudo o que é Comunicação Social sempre me causaram um amargor enorme, até mesmo azia. Desta feita, não. PS, PCP, BE e por aí foram não pouparam Coelho, a que uso chamar normalmente o Passos da crise.

Uma vez mais sobressaiu o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa. Na sua habitual intervenção dominical na TVI, o comentador enciclopédico disse que o primeiro-ministro dissera o que não devia ter dito – como… primeiro-ministro. Em tom irónico, com que tantas vezes esgrima e desanca, comentou que o chefe do Executivo não podia ser… comentador político.

Marcelo tem a habilidade de um equilibrista, mesmo na corda bamba. Dá uma no cravo, outra na ferradura. Não admira: os sujeitos a quem se dirige não conseguem ter os pés quietos. A imagem não é minha, foi utilizada no Parlamento da I República, mas gosto tanto dela que a uso a torto e a direito. Mas, entendo que não vale a pena chamar à colação o seu autor.

Passos Coelho parece não ligar o que quer que seja do alto da sua importância de risca ao lado. Escuda-se na maioria que o elegeu, na inevitabilidade dos aumentos de tudo o que é possível, na austeridade da desgraça, na ausência de alternativa, na certeza de tomar o caminho certo. Nada nem ninguém o fará desviar um milímetro que seja da rota que traçou. E do Conselho de Ministros informal em São Julião da Barra saíram quatro intenções para o desenvolvimento da economia portuguesa já neste ano que já está ali à esquina. Que não passaram disso. Se havia ingénuos que esperassem outra coisa, desenganaram-se, por certo.

O governante carrega o sofrimento como uma cruz sobre os ombros elegantes; arvora um ar de mártir, ainda que obrigado a salvar a Pátria, mesmo que ela não quisesse ser salva. Muitos disseram que o caminho para o triste entrevistado era… emigrar. Acrescentaram, porém, que, face à encomenda, os destinatários o recusassem e o devolvessem à procedência. A ideia inicial seria interessante; o resultado uma desgraça. Os remetentes estariam pior do que antes de o enviar. Ou seja, pior a amêndoa do que o cimento.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Não há dúvida: voltem... (enviada pelo Amigão Fernando Bandeira, que segue este blogue)

domingo, 4 de dezembro de 2011



Quem tem medo de greves?

+ Coelho não tem

Antunes Ferreira

O ministro Relvas foi vaiado no sábado, quando intervinha no Congresso Nacional das Freguesias. Depois do enxovalho, afirmou com irritação que a contestação de que fora alvo fora «organizada». Dá pena ver o ministro da Presidência ser tratado desta maneira em Portimão. O que se pode concluir é que já não há… maneiras.

Metade da assistência abandonara a sala antes mesmo do discurso do governante; mais uma prova da má formação de presidentes das Juntas de Freguesia. E, até, da má educação. Há dias em que um homem, mesmo sendo chefe de um ministério, não pode sair de casa, à noite. Mas a vontade verdadeiramente indomável do segundo braço direito de Passos Coelho não se vergou, nem verga. Temos homem.

Neste domingo, o próprio primeiro-ministro veio a público dizer que o também ministro dos Assuntos Parlamentares fora alvo de uma contestação «organizada». Organização governamental – perfeita.  Solidariedade governamental: mais que perfeita. Mas, ainda disse mais: a reforma na administração local é para ser concretizada, dê lá para onde der. Não foi de modas: «Não vamos adiar esta reforma. Este não é um problema pessoal, é um problema do país (…) «Temos de a fazer. Aqueles que são hoje presidentes de junta têm a obrigação de ajudar a reorganizar o país», reforçou.

E, numa afirmação de valentia inquestionável, Coelho garantiu não ter «medo de greves» e prometeu «travar todas as batalhas» para alterar uma lei laboral que actualmente apenas gera «desemprego e precariedade». Para o chefe do Executivo, «o maior mito que se tem vivido na sociedade portuguesa é que não se pode mexer na legislação laboral para não afectar os direitos» dos trabalhadores.

«A quem serve este regime, que supostamente é extremamente avançado de direitos sociais? Que regime avançado é este que só gera desemprego, precariedade, recibos verdes ou contratos a termo? Temos medo das pressões, ou da contestação ou das greves que possam surgir? Eu não tenho!» Temos também homem. Sem medo. Homem que vai salvar o País, mesmo que este não queira. Ou seja um verdadeiro escuteiro, ainda que sem escutas. Ou...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Frankensteins 
à portuguesa

Antunes Ferreira
PPC é demasiadamente arrumadinho, penteadinho, engravatadinho, para ser o Frankenstein cá desta santa terrinha. Mas, é. Gaspar é, também demasiadamente arrumadinho, penteadinho, engravatadinho, para ser o Frankenstein II cá desta santa terrinha. Mas, é. Pereira é, ainda, demasiadamente arrumadinho, penteadinho, engravatadinho, para ser o Frankenstein III cá desta santa terrinha. Mas, é. Mas, são.

Viram a entrevista do dr. Coelho ontem na SIC? Eu não vi, felizmente, mas uns quantos que viram contaram-ma logo a seguir. E li nas Notícias Google, imediatamente após. Dizem-me que há gente que se transformou, em frente do ecrã televisivo, em estátua de sal, como a mulher de Ló, quando fugia de Sodoma e Gomorra; olhou para trás, lixou-se.

O pesadelo, mesmo depois da aprovação do «mais difícil Orçamento de sempre», segue nos próximos capítulos. 2012 ameaça tsunami. Os apertos, já tão pesados, serão mais… apertados. O que quer dizer que a austeridade será mais… austera. Os sobreviventes: aos abrigos! A desordem será mantida, contra tudo e contra todos. E as forcas de segurança continuarão atentas. As forças também.

Porém, Coelho deu mais passos. Enviou ontem ainda um recado claro a Cavaco Silva: «O Governo não foi eleito para expressar as opiniões do Presidente.»  O primeiro-ministro afirmara antes que as críticas de Belém ao OE não punham em causa as relações institucionais, uma vez que também «o Presidente da República não foi eleito para representar o PSD».

O chefe deste Governo sublinhou que o seu papel é demonstrar lá fora, aos parceiros europeus, que não existe «um problema entre os órgãos de soberania» na aplicação do memorando da troika. Se Cavaco Silva tiver dúvidas sobre o OE, «estará no seu direito" e «tem prazos próprios para o fazer», acrescentou.

Já hoje,  António José Seguro, comentou a entrevista,  acusando Passos Coelho de «baixar os braços» e, com «insensibilidade social"» dar «pesadelos aos portugueses» em vez de dar «soluções», isto por ter pré-anunciado «mais medidas de austeridade». Segundo Seguro, o primeiro-ministro revelou na entrevista de quarta-feira que não acredita no seu Orçamento, desresponsabilizando-se da sua execução, e demonstrou que existia a «margem» que os socialistas têm vindo a reclamar para atenuar o embate da austeridade.

O secretário-geral socialista encontrou nas declarações de PPC a prova de que o projecto político do Governo é o da «direita mais conservadora e ultra-liberal» que já esteve no poder em Portugal. Tem uma referência, os mercados, nada contra os mercados, tudo pelos mercados. A lógica é portarmo-nos bem porque os mercados hão-de nos agradecer, a lógica é portarmo-nos bem porque os mercados depois vão ser nossos amigos e vão baixar as taxas de juro, a lógica é portarmo-nos bem porque os mercados hão de nos reconhecer e abençoar».

A velha Albânia ao pé desta gente que diz que nos governa – o que é uma redonda mentira, porque quem o faz é essa estranha figura bissexual a Merkosy – era uma estagiária de aprendiz de auxiliar de praticante. Valha-nos a Senhora da Agrela, que não há santa como ela. Ámen. Mesmo assim, não acredito.