quarta-feira, 25 de abril de 2012





Não gosto deste 25 de Abril


Pronto! Conheci o Salgueiro Maia, conversei com o Salgueiro Mais, fiquei amigo do Salgueiro Maia, acompanhei a sua via sacra, fui ao funeral do Salgueiro Maia. Que deveria ter-se chamado Salgueiro Mais.

Penso, creio - estou certo? - que ele, na sua ingenuidade de Homem Bom, sincero, valente, humilde e escassamente político, ou mesmo nada, não gostaria deste 25 de Abril de 2012. Como muito gostou do 25 de Abril de 1974. E do que nele fez.

Eu não gosto deste que hoje está a decorrer. Adoro o de 1974 que, infelizmente, segui desde Luanda. Chorei ao ouvir as notícias da rádio que nos iam dando as novidades da data da redenção.

Os meus filhos perguntavam à mãe o porquê do pai estar lavado em lágrimas. De tristeza?, inquiriam. E a Raquel, nada, não, é de alegria. E eles a matutarem sobre essa estranha coisa de chorar de alegria. Que nunca tinham visto. Estaria o pai bem?

Voltei-me para a minha mulher e sussurrei: e de raiva por não estar lá!!!. Baixinho, para que os putos não ouvissem e ainda estranhassem mais.

E, de novo, o pai está bem?, está óptimo, feliz, contente. E o choro, só quando dói é que a gente chora... O pai, depois, explica-vos. Mas, podem ter a certeza absoluta, o pai e eu estamos satisfeitíssimos.

Eu não gosto deste estranho 25 de Abril deste ano. E também não gosto deste Governo. E também não gosto deste Presidente da República. Continuo a gostar do capitão Salgueiro Maia; que, repito, deveria chamar-se Mais.


Antunes Ferreira


(*) Também publicado nos Alcatruzes da Roda

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Valha-nos a austeridade


Antunes Ferreira
A Standard & Poor’s desta vez não foi de modas: atirou a matar em todas as direcções na Europa e baixou o rating de muitos países, incluindo o de Portugal - que atirou para o lixo. Aliás, a Moody’s e a Fitch já o tinham feito também em relação ao nosso País. De fora ficaram muito poucos para não dizer apenas a Alemanha (que mantém o triplo A).

A agência apontou duas razões fundamentais para este cataclismo, e ambas são políticas. A primeira: o acordo conseguido na cimeira europeia de 9 de Dezembro «não produziu um avanço com dimensão e âmbito». A segunda: o processo de reforma «baseado unicamente no pilar da austeridade orçamental arrisca-se a tornar-se auto-liquidacionista». E com essa dinâmica pode disparar a «fadiga das reformas».

Pressuroso, o Governo (???) de Passos Coelho lamentou a decisão da Standard & Poor's de cortar o rating de Portugal de BBB- para BB, considerando-a «infundada». Num comunicado divulgado pelo gabinete do ministro das Finanças, o Governo afirmou que a decisão da agência correspondia «a uma quebra metodológica significativa», pois «parece ter substituído a sua análise individualizada por país por uma análise sistémica baseada na área do Euro, da qual decorrem avaliações que não reflectem adequadamente as realidades nacionais».

Se alguém conseguir explicar-me este arrazoado do ministro Gaspar ou, mais precisamente, do Executado, digo, Executivo que nos tenta executar, fico-lhe desde já muito grato. Um verdadeiro desaforo, um inaudito despautério. Os malandros da S&P permitem-se criticar a austeridade que, PC dixit, vai salvar Portugal. De quem?