segunda-feira, 31 de outubro de 2011



Governo recomenda emigrar

Antunes Ferreira
Leio – e não quero acreditar. Releio e está lá mesmo no despacho da Lusa. É obra. Miguel Mestre, o Secretário da Juventude e do Desporto, afirmou que o jovem desempregado em vez de ficar na "zona de conforto" deve emigrar. Nunca tal tinha lido.

"Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras", disse o governante, que falava para uma plateia de representantes da comunidade portuguesa em São Paulo e jovens luso-brasileiros.

Segundo o mesmo responsável, o país não pode olhar a emigração apenas com a visão negativista da "fuga de cérebros". Para ele, se o jovem optar por permanecer no país que escolheu para emigrar, poderá "dignificar o nome de Portugal e levar know how daquilo que Portugal sabe fazer bem".

Caso a opção seja, no futuro, voltar a Portugal, esse emigrante "regressará depois de conhecer as boas práticas" do outro país e poderá "replicar o que viu" no sentido de "dinamizar, inovar e empreender".

Já sabia que Oliveira Salazar decidira aproveitar a emigração – até mesmo aquela que era conhecida por a salto – para alcançar uma “especialização” dos trabalhadores portugueses. Ou seja, um servente regressaria “formado” como pedreiro, estucador, electricista, quiçá mesmo mestre de oficina. E sem o Estado português despender um tostão.
Mutatis mutandis, para comparação, já chega.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

NO CASAL DAS LETRAS 

Antunes Ferreira: a entrevista

Maria Albertina
Queridas comentadoras, queridos comentadores e quem nos lê e acompanha

Não estou a escrever de encomenda. O nosso Henrique Antunes Ferreira, o Ferreiramigo, deu uma entrevista s-e-n-s-a-c-i-o-n-a-l no site CASAL DAS LETRAS http:///www.casaldasletras.com
Os entrevistadores – que são também os autores e proprietários do CASAL DAS LETRAS – a Maria Augusta Silva e o Pedro Foyos foram jornalistas do Diário de Notícias tendo por chefe o Antunes Ferreira.
É uma peça jornalística excelente, tal como o foi a entrevista que ele deu à sua amiga Maria Augusta, aquando da publicação do livro dele «Morte na Picada». Eles conhecem-se desde Angola, onde nasceu a sua amizade.
Tenho de aqui fazer essa referência e peço a todos que o queiram fazer para a ir lerem e, naturalmente, mandarem as vossas opiniões para o CASAL DAS LETRAS.
Muito obrigada

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NE - A nossa Maria Albertina, comentadora da Travessa postou lá o comentário que se pode ler acima. Mas, mais: pediu-me para o postar aqui na Política ou Pulhítica. O que faço com o maior prazer, não buscando, como é evidente, aplausos. Mas, noblesse oblige e, afinal, também me faz bem ao ego...



quinta-feira, 27 de outubro de 2011


Nos anais… da História

Antunes Ferreira
Daqui a bastantes anos, num tempo obrigatoriamente mais distanciado, quando se tentar fazer a História deste País neste período de cócoras profissionais (se ainda houver História e se ainda houver País), ter-se-á fatalmente de falar muito dos passos da crise e pouco do Passos da crise. Tantas são as contradições, tantas são as partidas em falso, tantas são as promessas mentidas, que o actual primeiro-ministro não terá grande lugar nos anais. Históricos, sem segundas intenções, já que nos habituais a usar os nossos de forma um tanto desguarnecida. 

quarta-feira, 26 de outubro de 2011




Uma coisa de cada vez


- Sem comentários


Uma coisa de cada vez é um «cartaz» com imensa graça que o meu bom Amigo Melo Torres me enviou por imeile. Naturalmente, publiquei-o no Pulhitica.


Mas, parece que a imagem não saiu correctamente ou, até, nem saiu. Pelo menos o Pedro Coimbra, lá de Macau, perguntou por ela. Por isso a repito, convidando-vos a nela reflectir para além de soltarem umas boas gargalhadas. 


Do lapso, peço desculpa; mas, o Blogger está cada vez mais fdp... Espero que desta vez o boneco saia. Na nossa Travessa já está. Peço-vos o favor de me dizer se sim, se não. Obrigado


A.F.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011


As novas notas da crise


Portugal está a emitir novas notas, depois de, como é evidente, ter sido  devidamente autorizado pelo Banco Central Europeu, BCE, a única entidade emissora da moeda única.


Numa verdadeira jogada de antecipação, este blogue dá a conhecer a principal delas, imagem que nos foi enviada, sob o mais absoluto sigilo e a mais estrita confidencialidade.


Sem euros...


Entretanto, zangam-se as comadres...


Oportunamente tentarei abordar a última posição de Sua Insolência o Senhor Presidente desta República sem bananas (as da Madeira não contam) nem euros. Só autoridade, ou seja, austeridade, honny soit...



domingo, 16 de outubro de 2011







Leite e mel



Antunes Ferreira


Desengane-se quem contava que o discurso do nosso primeiro na quinta-feira fosse mau; foi pior, na realidade, foi péssimo. Foi o discurso da desgraça, foi o discurso do aumento das cargas (fiscais e outras) sobre os Portugueses, foi o discurso da ameaça, foi o discurso da retaliação. Contra (quase) todos os Executivos que antecederam o actual. Sem os nomear – e assim os de Cavaco escaparam.


No entanto, Pedro Passos Coelho, PPC, sempre foi dando uma pequeníssima alegria progressiva ao povo: em 2012 será o tsunami, em 2013 será a emersão, e finalmente, em 2014 será o país do leite e do mel. Há quem duvide? Eu, não. Acredito habitualmente, sem rebuço, em quem nos governa, nas suas rectas intenções, nos seus bons propósitos e, sobretudo no que se propõem fazer. Ingénuo? Crente. Porém, cuidado, fui católico, mas curei-me.


Diz quem sabe dessas coisas que há que sofrer na terra para se ganhar o Céu e, especificamente, a felicidade eterna. Cada vez mais me espanta a asserção, pois todos ambicionamos ser o mais felizes possível nesta vida que, aliás, para mim é a única que temos. A esmagadora maioria dos homens almeja a felicidade no quotidiano. Esperar por um lugar numa qualquer nuvem com direito a harpa individual é despiciendo.


Leite e mel






Alcançar a terra do leite e do mel é aspiração que já vem do Antigo Testamento. Umas quantas lendas judaicas igualmente a isso se referem. Um exemplo, apenas. «Um sábio, de su nome Rami ben Yechezkel certa vez visitou Bnei Brak. Quando andava num campo, perto da cidade, encontrou três figueiras repletas de frutos doces e maduros. Muitos já estavam caídos no solo e o seu mel fluía deles. Naquele mesmo, algumas cabras, que pastavam por perto, vieram a correr, e comeram os figos que estavam no chão. Os úberes das cabras ficaram tão cheios que o leite gotejou na terra, precisamente em cima do mel dos figos. Rami ben Yechezkel ficou emocionado. "Vejam", bradou, - "isto é exactamente o que Hashem nos prometeu - uma terra com abundância de leite e mel!"». Si non è vero, è bene trovato.


Pois foi o muito pouco que eu pude deduzir dos quase vinte minutos de palavreado com que o primeiro-ministro nos mimoseou. O que, não sendo animador, bem pelo contrário, foi esclarecedor. Isto está num buraco tal que tem de haver quem pague para que o tapem. Ao buraco colossal, entenda-se. Não haja dúvidas: serão os mesmos, ou seja, os funcionários e os pensionistas. Remédio santo e fácil.


Espantou-me um tanto que Coelho não tenha também incluído nesta gentalha, os jornalistas. Mas, hony soit… Mas enfatizou uma ajuda para a posteridade e para a produtividade. Os molengas dos trabalhadores da privada, para que não se fiquem a rir, vão trabalhar mais meia hora por dia. Os patrões queriam mais, mas foi o que se pôde arranjar.


Descuidado ou desatento não ouvi nada sobre a nossa economia. O nosso chefe deve ter enunciado os caminhos para o crescimento e, já agora, para o desenvolvimento, mas não dei por isso. Da consolidação orçamental e da correcção das contas públicas, disso, dei conta. E vejam que não desliguei o aparelho auditivo, muito simplesmente porque (ainda) não o uso.
E o 24/25 de Dezembro?

Porém, o desejado aumento da famosa produtividade não resultará desse bendito, ainda que escasso, acrescento laboral de trinta minutos diários. Vai-se aos feriados – e pimba, juntam-se aos fins-de-semana e outros mesmo deverão ser executados, precisando, abatidos, eliminados. A Igreja que nestes transes não é de modas, já admitiu que nem os feriados católicos escapem. Eu pergunto-me: os Santos Populares, vá que não vá. O António, então, é só balões, sardinha assada com pimentos, marchas e vinhaça. Mas, e o 24/25 de Dezembro?

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Temos Orçamento!
Te


Já saiu, já saiu. A esta hora (24:47 TMG) ainda continuo a bater palmas. Temos homem! Temos Orçamento! Temos coragem! Temos transparência! Temos determinação! Temos rumo! Temos timoneiro ao leme! Temos futuro! Temos merda...
A.F.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011


O OE e a taluda

Antunes Ferreira
O Orçamento para 2012 está realmente muito difícil de parir. Já o tinha dito Pedro Passos Coelho, secundado depois pela dupla mais perigosa: Vítor Gaspar e Álvaro Santos Pereira. Recordo aqui as afirmações do nosso primeiro. «Será seguramente o orçamento mais difícil de fechar e o mais difícil de executar de que temos memória em Portugal» que ainda sublinhou que «todos os sacrifícios que vai envolver e todos os esforços só têm o propósito de cumprir» o acordo com a troika.

A este trio de ataque (que me perdoe a RTP) juntou-se agora o ministro Relvas, um verdadeiro anunciante do apocalipse, depois de reunião que teve com a Associação Nacional dos Municípios Portugueses. «O sacrifício que vai ser pedido às autarquias é o mesmo sacrifício que será pedido ao Estado central e ao Estrado regional».

E acrescentou que o OE que vai ser aprovado amanhã, depois de uns quantos adiamentos e prolongadas reuniões do Conselho de Ministros: «é orçamento muito difícil de ser encerrado, de ser fechado, que está a ser difícil de ser construído, porque não queremos ter surpresas mais à frente». O eterno presidente da ANMP, Fernando Ruas, militante do PSD, singular coincidência, não levantou grandes objecções ao seu companheiro.

Deixem-me que aqui desabafe que, quando era chefe do Gabinete de Comunicação do Ministério das Finanças, tive oportunidade de assistir ao processo de elaboração orçamental por três vezes. Fi-lo a fim de tomar conhecimento do que se ia desenrolando para depois poder dar à Comunicação Social os resultados finais e as dificuldades havidas para a concretização do documento fundamental na previsão das receitas e despesas do Estado. Todos a querer muito, o Governo a não poder dar mais.

Daí que compreenda bem que a dificuldade anunciada é muito preocupante; é uma dificuldade muito… difícil. Difícil de fechar e de executar de que temos – ou mais precisamente o Executivo tem – memória em Portugal, de acordo com Passos Coelho.

É fatal como o destino: estamos feitos. Nesta altura, estamos mesmo muitíssimo feitíssimos. No momento de apertar o cinto, somos todos iguais? Não nos podemos esquecer de que há sempre uns mais iguais do que os outros. Amanhã, veremos. Benzamo-nos, se é que nos valerá de alguma coisa. A taluda só sai aos virtuosos; aos pecadores, nem a terminação.




domingo, 9 de outubro de 2011

A vitória prevista

Antunes Ferreira
Se ainda houvesse dúvidas, elas desvaneceram-se: o masoquismo existe e a gratidão também. A maioria dos madeirenses deu, de novo, o poder ao Dr. Alberto João Jardim. Com a menor percentagem de votos desde que subiu à presidência da hoje Região Autónoma em 17 de Março de 1978, mas com 25 dos 47 deputados do Parlamento Regional.

Na conferência de Imprensa, sem direito a perguntas, que deu depois do apuramento dos votos disse que (transcrevo): «O meu partido é a Madeira pelo que não contam comigo para outras fidelidades partidocráticas até por as facas que foram metidas nas costas do povo madeirense».
Prometeu ajudar a «ultrapassar as dificuldades», mas «sem quaisquer cedências no campo dos valores e dos princípios nem com concertações para a fotografia do politicamente correcto». E ainda: «Contem sim comigo para ajudar na mudança do sistema político que é um sistema inadequado à gravíssima situação que os portugueses sofrem, bem como para uma actuação contra o liberalismo capitalista em que está mergulhado o nosso país».

Salientou ainda que «face a este liberalismo selvagem vigente impõe-se o intervencionismo disciplinador do Estado nos meios financeiros a fim de imprescindivelmente alavancar a economia». E, finalmente afirmou: «Não aceitamos também o facto de o aparelho de Estado, para surpresa dos portugueses, se encontrar ainda nas mãos do poder socialista, nomeadamente nos ministérios das Finanças e da Justiça bem como a Rádio Difusão e a Rádio Televisão impropriamente chamadas portuguesas».

Jardim no seu melhor. De Ponta Delgada, Carlos César (que não se recandidatará a novo mandato), felicitou-o, o que estranhou alguns face às diatribes com o Senhor do Funchal o tem mimoseado. Em democracia, mas não naquela que o madeirense diz ser a sua, a atitude do Presidente açoriano é normal. Resta aguardar pelo que fará o Governo de Lisboa que pratica o liberalismo capitalista e selvagem que Jardim abomina e tentará eliminar. Naturalmente depois de lhe serem dados os milhões de euros de que a Madeira necessita como de pão para a boca. Que ele próprio pediu por escrito ao poder central. E que ele se gaba de ter gasto para a felicidade dos madeirenses.

Mas vincou ainda que não aceitará medidas «discricionárias contra os madeirenses e portossantenses» e que os sacrifícios e os benefícios terão «que ser iguais» para todos os portugueses. Mais: admitindo que os anos que se seguem «serão difíceis», avisou que as dificuldades serão ultrapassadas sem «cedências no campo dos valores e dos princípios.» E agora, Vítor Gaspar? E agora, Passos Coelho? E agora, Cavaco Silva? Com o aparelho do Estado ainda nas mãos do poder socialista, como descalçarão a bota? Ou antes, o par de botas…

quinta-feira, 6 de outubro de 2011


O PS e o passado recente

Antunes Ferreira
Com a devida vénia (nariz de cera que de tanto se utilizar nos jornais & correlativos se tornou calino) transcrevo do «Público» de hoje a seguinte notícia:

«O secretário-geral do PS defendeu, na conferência do seu grupo parlamentar sobre a internacionalização da economia, ser necessário cortar com o passado de soluções conjunturais e de pequenas políticas. Sem nunca falar directamente do anterior Governo liderado por José Sócrates, António José Seguro admitiu “responsabilidades de todos”.

As críticas de Seguro ao passado surgiram quando defendia uma “agenda sustentável para o crescimento e emprego” nunca levada a cabo por qualquer Governo. Disse que a sua ausência explicava “uma parte dos problemas estruturais do país” e que, por isso, era necessário fazer diferente: “Temos que perceber que as soluções do passado trouxeram-nos até aqui e que só uma nova atitude política e intelectual é que pode ajudar Portugal.”

Quanto a Luís Amado, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, foi mais directo. Para defender a necessidade de um “compromisso nacional para a estabilidade, para o crescimento, para o emprego”, recuperou os tempos de experiência governativa. Defendeu que a falta de “coesão e de solidariedade” entre “os principais actores” afectou a imagem do país no estrangeiro: “Vivi talvez com mais angústia do que outros colegas de Governo a situação em que, paulatinamente, o país ia caindo. Precisamente porque no cotejo da nossa realidade com a realidade internacional nós percebíamos como a situação interna afectava tanto a capacidade do país se afirmar do ponto de vista internacional, como de garantir confiança para captar investimentos, de abrir novos mercados para os nossos produtos.”
»
Desabafos, críticas, punho no peito, ou melhor punhada, que certamente muitos vão considerar punhalada – e pelas costas. Tu quoque, Brute, fili mi? Foram estas as últimas palavras de César quando foi assassinado em pleno Senado, perante a primeiro golpe, até tu, Brutus, meu filho? Mesmo que sejam realistas vão motivar muitas reacções. Ou apenas um mea culpa ?



domingo, 2 de outubro de 2011

Jardim morde a mão

Antunes Ferreira
Jardim morde a mão de quem lhe dá pão. Jurara a mim próprio, com a devida solenidade interior, que ignoraria o bicho da Madeira. Mas, quem mais jura, mais mente. Não consigo conter-me, pois o homem atingiu o grau da paranóia. Berrou, num comício em Machico, que é preciso dar «uma sova nos poderes políticos de Lisboa com uma votação esmagadora e nunca mais eles vão-se atrever ou tentar humilhar o povo madeirense».

E não esteve com meias medidas: com esta tenebrosa conjura contra os madeirenses, «ganha o PS, que fala da Madeira como se não tivesse feito toda esta pouca vergonha ao país e nos ter posto sob administração estrangeira, e ganha o actual Governo de Lisboa, porque enquanto se está falando da Madeira não se está falando das medidas que eles estão a tomar e uma é muito grave para a dignidade do povo português porque permite o despedimento sem justa causa».

O caruncho continua a atacar. E Passos Coelho continua a assobiar para disfarçar; e Vítor Gaspar acompanha-o; e Álvaro Pereira secunda-o; e Cavaco Silva marca passo: faz que anda mas não anda. Portas não se cala e Jardim, pimba, lá vai disto. Guilherme Silva, que se perfila como herdeiro do democrata do Funchal responde ao colega de coligação em tom soft.

Raio de imbróglio. Não foi Alberto João que pediu auxílio aos seus companheiros laranjas de Lisboa para pagar o que fez e que disse que não tinha fundos para os compromissos da Região? Ou fui eu que tresli? Estou convencido que não. Repito: Jardim morde a mão de quem lhe tem dado o pão e quer ainda mais. É demais.