Uns e os outros
Margarida Maria
Não, este texto não se refere ao famoso filme Les Uns e Les Autres, mas sim a uns e a outros que passam e cruzam as nossas vidas. Foi uma velhinha que se cruzou na minha e me deixou com vontade de criar um grupo terrorista e andar à chapada.
Abeirou-se de mim muito devagar, delicadamente, pedindo para me dar «uma palavrinha». O aspecto era limpo e cuidado. Tinha 84 anos e o centro de dia estava fechado para férias. Já eu me via a fazer-lhe um bocado de companhia quando ela me disse que o problema era que ainda não tinha comido nada, que nunca pediu nada a ninguém, que foi empregada doméstica, mas não pode trabalhar mais, que a pensão não chegou para os medicamentos, aviados na farmácia à confiança, e que, se eu pudesse, lhe podia «dispensar» algum a coisa para comprar um pão.
De repente, o dia de sol na belíssima Baixa de Lisboa pareceu-me apagado. A velhinha – 84 anos feitos em Agosto, que criou os meninos todos de uma família («estão todos de férias lá para o México»), que tem o centro de dia fechado, que não conseguiu pagar todos os medicamentos e que apresentava o seu Bilhete de Identidade para atestar a sua honradez, com a sua dignidade –, ofuscava qualquer Lisboa brilhando ao sol.
Porque nesse mesmo dia a Comunicação Social fazia eco de que o Governo, em dois meses, nomeou 500 (quinhentos) assessores. E também foi em Lisboa que isso aconteceu, numa capital de um País gerido troikianamente mas só para alguns. Seguramente para a velhinha a quem dei todos os euros que trazia na carteira. Porque eu ainda posso deixar de tomar café e de almoçar, mas a velhinha… E apetece-me recorrer a Augusto Gil e à Balada da Neve para adulterar: E aos velhinhos, Senhor, porque lhes dais tanta dor?!
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NE – Com este texto da jornalista Margarida Maria (que comigo trabalhou anos a fio no Diário de Notícias, que também escreve na Travessa e que continua a ser uma excelente Amiga), iniciam-se as colaborações para este blogue. Aos que desejarem contribuir com artigos, aqui se deixa, para conhecimento e cumprimento, o Estatuto Editorial dele:
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Muito obrigado
Recordo uma conversa, há já tempos, com uma amiga, sobre o que mais lastimar: se um(a) velhinho(a) pobre e só ou uma criança esfaimada e andrajosa. Defendi, então, o que mantenho, que me faz mais impressão o/a velhinho/a. E isto porque estará no fim da vida, sem réstea de esperança, e a criança ainda está no começo e com sorte esforço ainda poderá aspirar a uma vida decente. Quer me diz o AF?
ResponderEliminarque se passa com o seu email?
ResponderEliminarQuinhentos
ResponderEliminarUm dilema é sempre um dilema. E optar é sempre difícil; mas há que o fazer, sob pena de cruzarmos os braços.
Vou pela tua resposta. Ver sofrer uma criança é penoso e revoltante; uma velhinha também. Mas à criança sobra tempo para se safar. à idosa - não
Abç
Quinhentos
ResponderEliminarO hantferreira@gmail.com não tem tido qualquer problema, pelo menos de que eu tivesse tomado conta.
Espero que também aqui sejas meu seguidor; obrigado
Abraço
Tudo por causa da Pulhitica...
ResponderEliminarPois bem, Ferreiramigo:na 6ªpassada, andando pelo centro da cidade, que não era Lisboa, era Fortaleza-CE, Brasil, a caminho do BB (que em Lisboa tem), encontrei inúmeras velhinhas, sentadas nas calçadas, com uma mão estendida, aguardando a "queda" de uma moedinha, pelo "amor de Deus". Não jogo uma moedinha,ajudo de outra forma. Não vejo diferença, entre as velhinhas fortalezenses e as lisboetas. Tanto as velhinhas daqui, como as velhinhas daí, na miséria, são resultados da Pulhiticagem
Falta a famigerada "vontade política", para que a vida dessa gente venha a ter dignidade.
Paro por aqui....
Abraços
Lúcia
Amigo Ferreira ainda não me tinha apercebido deste seu espaço...o da travessa vai continuar?
ResponderEliminarÉ que ontem e hoje tentei lá ir e não consegui aceder...
Quanto ao texto, simples e bem objectivo...agastada pelo que tenho ouvido da boca dos nossos (des)governantes tenho procurado estar atenta às sentenças que pairam sobre as nossas cabeças...se for para o cadafalso pelo menos sei porquê...rsrsrsrsrs
Digo-lhe amigo que tenho ficado deveras preocupada com o andamento das coisas...na semana passada à minha porta têm vindo pessoas pedir ajuda...comida para os filhos, dinheiro, roupa...eu só penso que esta é a pobreza ás claras, mas cadê a outra que está disfarçada, envergonhada????
Lembro-me de visitar idosos em casa (aqui há um tempo no âmbito da minha profissão) e encontrar fome, solidão e desespero...lembro-me dos "meus" velhinhos e penso que eles não vão conseguir sobreviver a isto....diminui-se os recursos na saúde, na educação, etc e quero ver quem cuida desta gente só???!!!
Sim, já dizia o povo que não se pode fazer omeletes sem ovos!!!
Muito haverá por dizer, mas ainda vamos conversar muito...
Abraço amigo
É a disciplina, nossa força, que causa a nossa fraquesa...Quanto mais nós servimos a Pátria e nos confundimos com ela, mais o nosso coração de homens frágeis tem dificuldade em resistir ao respeito que nos impõe.
ResponderEliminarEis a nossa miséria, que provém da nossa grandeza.
Eu vos conto: no começo da legislatura anterior o "comandado" por por um "coronel" (sócrates) e por o chefe Supremo (General Cavaco), cheios de medo ambos.O "coronel" fez-se matar na frente da «batalha cor-de-rosa», quando observava, como o "binóculo", as linhas da inimiga TROIKA. Levantou o seu corpo de "gigante" no terreno em plena "batalha da crise", para melhor avaliar a situação. Quando no cemitério davam a sua bravura como exemplo, eu sabia que o infeliz acabava de pagar com "vida" a sua ultima cobardia...O General...esse é agora um "morto vivo"...
Abraço
Paulo
Lúcia
ResponderEliminarNeste Mundo desgraçado que os homens (nós todos) têm vindo a destruir impensada ou pensadamente desde que desceram das árvores, as desigualdades são «iguais» por tudo o que é sítio.
Tentar eliminá-las? É tarefa dificílima; mas, pelo menos, podemos tentar atenuá-las.
Queijinho
Céliamiga
ResponderEliminarNão se pode realmente fazer omeletes sem ovos. A frase foi dita por um célebre treinador de futebol brasileiro que veio para o Benfica, Otto Glória. E que correu os outros dois grandes e foi o treinador dos Magriços de 66 que ficaram em terceiro lugar no Mundial. Era seleccionador Manuel da Luz Afonso, pai do meu Amigo e colega José Manuel e sogro da Simonetta. Gosto, verdadeiramente, de futebol.
Como não gosto, decididamente do liberalismo troikista com que o Governo PC/PP nos «brinda». O corte «histórico» na despesa pública parece afectar, pelo menos até à data, a saúde, a educação e na segurança social. O que, no mínimo, é desolador.
Que fazer perante isto? Nós, os Portugueses, amochamos com muita passividade. Gostamos da canga. E acolhemos o pau e a cenoura sem grande rebuço. É mau; é péssimo.
Vamos, de acordo estou, continuar a conversar. É assim que a gente se entende; ou deve entender
Queijinho
Paulo
ResponderEliminarUm destes dias, ainda veremos os lusos - que somos nós, acentuo, nós todos - deitarem umas lágrimas pelo Sócrates. Muitas, serão de crocodilo; outras, porém...
Quanto a Belém - é um caso perdido. Sua Excelência já não sabe o que fazer. E quando fala, nem entra mosca. Assim vamos, infelizmente... infelizes
Abração
Margarida
ResponderEliminarTambém me toca muito o problema dos idosos. Sempre tocou e, não é por ser idosa (67, quase) que me preocupa mais. Felizmente não tenho problemas. Mas, vejo-os todos os dias. Tenho uma empregada que tem a pensão social mínima, mais uma miserável ajuda para medicamentos, visto ter todas as doenças que, neste país, são "privilégio" dos idosos. Com 70 anos já pouco ajuda mas, deixo-a vir "trabalhar" pois não tenho coragem para lhe tirar a ajuda que lhe dou.
Temo, sinceramente, o dia em que eu também não o possa fazer. Da maneira que isto está, pensões a baixar, tudo a subir, impostos a crescer, qualquer dia, não terei para mim, nem para ela.
E isto dói-me, amiga. Porque a estimo, por que sei os problemas dela, porque também eu sou velha.
Obrigada por ter tocado neste problema.
Abraço
Maria
Ferreiramigo, isto que relatastes aqui no Brasil é incrivelmente igual. Velhos, os governantes não os querem, pois querem suas magras aposentadorias para colocarem em seus bolsos sujos pela corrupção. e fica a certeza, lá como cá, ou em qualquer parte do mundo, político tinha que nascer morto.
ResponderEliminarHoje vou deixar uma dessas pouca vergonhas lá no meu cantinho.
ResponderEliminarRevolta, carago!!!
Um gajo não é de pau.
Um abraço